MESTRE AFFONSO

Jun 26 2018 /

Mestre Affonso
*27/07/1949
Ɨ 25/10/2012 – Belo Horizonte

O sambista Mestre Affonso, conhecido pela influência no samba mineiro, morreu em 2012, em Belo Horizonte, aos 63 anos. Ao longo de sua trajetória, Afonso Marra Filho fez trabalhos como radialista, mestre de bateria de diversas escolas de samba de Minas Gerais, além de ser um reconhecido pesquisador do assunto, fazendo palestras sobre o tema em todo o país. Geraldo Magnata, músico e amigo do sambista, conta que ele deu importante apoio às escolas de samba da capital, como a Bem Te Vi e Chame Chame. “Ele sempre foi um guerreiro em defesa do samba”, afirmou à época de sua morte.

O sambista colaborou por uma década com um programa sobre música da Rádio Itatiaia, aos domingos, ao lado do jornalista Acir Antão. A parceria, segundo Acir, já durava cerca de 10 anos. “Ele era espirituoso, bem-humorado, presença agradável dentro da rádio”, disse Antão, citando que o último grande trabalho de Mestre Affonso foi um projeto com presidiários, no qual os detentos trabalhavam na produção de alegorias e confecção de roupas de carnaval em troca da redução da pena.

Velho conhecido das rodas e quadras das escolas de samba de Belo Horizonte, Mestre Affonso construiu um extenso currículo de serviços prestados ao gênero. Foram 18 anos dirigindo a bateria das principais agremiações carnavalescas da capital, onde recebeu nota 10 em todas. Atuou ainda como músico da noite de BH, tendo acompanhado figuras como Marilton Borges e Maurício Tizumba, além de produzir eventos e grupos da linha do Descontrasamba e Skindô.

Fazia palestras em seminários sobre o samba, escrevia artigos para jornais e revistas e manteve um acervo de mais de 40 títulos relacionados ao gênero, fora os 1.600 LPs, CDs e DVDs. Esperara por um patrocínio para editar um livro com mais de 200 histórias verídicas sobra a história do samba de BH, enterros e velórios – no mundo do samba chamados de gurufins –, viagens e outras curiosidades a este universo.

 

Mesmo não estando vivo para assistir à reviravolta do carnaval de Belo Horizonte – que nos últimos cinco anos se transformou num fenômeno de blocos pelas ruas da capital, atraindo centenas de milhares de foliões de todo o país –, Affonso era um crítico em relação à organização do samba e da festa momesca de Belo Horizonte. Na sua avaliação, sempre faltaram profissionalismo e união, seja por parte do poder público ou dos próprios sambistas. “Não mudou muita coisa. Nosso samba ainda é muito dependente”, avaliou, numa de suas últimas entrevistas. Um dos pontos criticados pelo sambista era a divisão entre as rodas de samba e as agremiações carnavalescas, diferentemente do que ocorria e ainda ocorre no Rio de Janeiro, onde um completa o outro.

Quando criança, Mestre Affonso foi deixado em uma caixa de papelão na porta da casa de seus pais adotivos: Afonso Marra, descendente de italianos, e Hermínia Gonçalves, de família portuguesa. “Não tenho vergonha da minha história, que é motivo de orgulho”, garantia, no auge de seus 57 anos, casado e pai de um casal de filhos.

As 10 anos, Afonso Marra Filho morava no Bairro do Prado, na Região Oeste de BH, quando da janela da casa ouvia o batido da extinta escola de samba Unidos do Prado, comandada por “Ladil”, contemporâneo de bambas Mestre Conga e Jadir Ambrósio. “Naquela época, usava-se o tamborim de cintura, feito com lata de carbureto e coberto de couro de gato. Então, o Ladil me presenteou com um tamborim com a seguinte recomendação: quando voltar aqui, se não souber tocar o tamborim, vai apanhar. No dia em que voltei lá, sem falsa modéstia, toquei o tamborim”, contou.

A partir daí a paixão de Mestre Affonso pelo samba tomou conta da sua vida. Passou pelas principais escolas de samba da cidade, incluindo sua escola do coração: Unidos dos Guaranis. Porém, o surdo de primeira da Estação Primeira de Mangueira falou mais alto e o sambista se tornou um dos maiores apaixonados pela Verde-Rosa, sendo homenageado pela agremiação de Cartola, como personalidade do samba em 1992, ano que a escola teve como tema o maestro Tom Jobim.

Com trechos de reportagem do jornalista Zu Moreira para o Diário da Tarde - 04/06/2017

 

 

 

Visto 4931 vezes

PATROCÍNIO