RAINHAS DO CARNAVAL

RAINHAS DO CARNAVAL Gilvan Braga, Claudinei Sousa, Divulgação/Belotur e Arquivo Pessoal

Raio de Sol faz homenagem a várias gerações de passistas

“Nós mulheres, negras, faveladas, empoderadas, temos um papel muito grande no samba. O que é preciso compreender é que não somos um pedaço de carne na avenida. Aquilo ali se chama arte. Fazemos o que gostamos e isso merece respeito”, afirma a chef de cozinha Luana Andrade, de 38 anos, Rainha do Carnaval de Belo Horizonte em 2008, dando o tom do real significado das passistas do universo do samba e do Carnaval.

Ela, Inês Pereira, Raquel Moçambique, Sicatria de Paula, Sheilinha e Maxlaine serão  homenageadas, neste domingo, pela Escola de Samba Raio de Sol, em um grande encontro de gerações no Mercado da Lagoinha, a partir das 13h, com direito a participações especiais do compositor Lado Raízes e do cavaquinista Warley Henrique.  Agenda completa do fim de semana aqui.

“Homenagear as passistas é valorizar o nosso povo e a nossa gente, é combater o preconceito, o machismo e o assédio, desafios que as mulheres do samba precisam driblar no nosso dia-dia”, afirma o diretor de carnaval da escola, Alvimar Neri.

A presença das passistas no carnaval remonta ao início do século passado, mas ganhou projeção e fama a partir da década de 1960, quando o portelense e apresentador de TV, Oswaldo Sargentelli, censurado  pela ditadura, resolve produzir shows de samba com a presença das “Mulatas de Sargentelli”. 

Não por acaso, a partir da década de 1970, as dançarinas vão ocupando espaço de tão modo que começa a surgir a figura da Rainha da Bateria. A primeira, apesar de haver controvérsias, foi Adele Fátima, uma das musas de Sargentelli. Outro destaque foi Monique Evans, em 1985, inaugurando a parceria entre modelos e celebridades com as baterias das escolas.

Filha da passista Elizabeth Maria de Andrade e do mestre de bateria, Edmar Gambá, Luana é madrinha de bateria da escola de samba Cidade Jardim, já desfilou no bloco caricato Invasores de Santo Antônio e está muito emocionada devido à homenagem.

“Fico muito feliz pela homenagem. É um reconhecimento do nosso trabalho que vem de anos. Estamos na ativa, fazendo shows, festas de aniversário e toda vez que entro na avenida é uma emoção diferente” afirma, Luana Andrade, nascida e criada no Morro do Papagaio, no bairro Santo Antônio, região Sul de Belo Horizonte. 

“Uma passista antes não era tão respeitada. Hojej com tantas lutas por igualdade estamos ganhando espaço. Então, me sinto muito honrada em ser homenageada pela escola”, garante Inês Pereira, 49 anos, passista do bloco caricato Bacharèis do Samba. Começou aos 11 anos de idade desfilando no Invasores de Santo Antônio, já passou pelas escola de samba Cidade Jardim e Imperavi, sendo ainda hoje uma das mais ativas.

“Comecei cedo, aprendia os passos olhando e admirando figuras como a Sandra Veneno, minha principal inspiração e de quem sou  fã número 1”, conta Inês, diretora da ala de passistas do Bacharéis, ao citar uma das maiores referências de passistas em Belo Horizonte. Agora, a herdeira é a neta Laura, que desde os três anos segue os passos da avó. “Somos uma família de passistas”, completa. 

Outra referência no meio é Sicatria de Paula, 48 anos. Em 1981 ganhou o primeiro concurso de Rainha Mirim, representando a Inconfidência Mineira, escola na qual já desfilava desde os sete anos de idade. Seu currículo é extenso: também foi eleita Garota Simpatia (1983), Mulata de Prata BH e Sambista de Ouro (1989), concurso promovidos nas casas de shows da época, como os extintos Nova Camponeza e o Tulipão. “Angela Maria estava se apresentando neste dia. Foi inesquecível, porque ela me elogiou muito”, relembra. 

Em 1993, último ano em que as escolas disputavam entre si,  ganhou o concurso de Rainha do Carnaval pela Canto da Alvorada, em evento no ginásio do Cruzeiro, no barro Preto. Além dos concursos, Sicatria fez apresentações com os principais grupos e sambistas da época: Ki Samba Show, Magnatas, Lulu do Imperio, Mandruva, além de também ter dançado com Neguinho da Beija, Fundo de Quintal, Só Preto Sem Preconceito, entre outros. Esse ritmo se intensificou até 2007, quando realizou seu último desfile, pela Acadêmicos de Venda Nova. 

“Resolvi dar um tempo”, afirma ela, que dez anos depois volta a participar do carnaval de passarela como diretora de ala de passistas. No carnaval 2019, foi a diretora de Passistas da Canto da Alvorada.  “Estou muito feliz com esta homenagem, me sentindo valorizada por aquilo que é uma das coisas que mais amei e amo fazer,que é o samba”, disse.

“Nossa vida era ficar dançando, sempre juntas”, completa Sheila Cecília da Silva, 54 anos, a  Sheilinha, ao se referir aos sambas no Elite, quando ia com a amiga Sicatria. “Comecei a dançar com os Magnatas, nos anos de 1990. Depois viajei muito  para o interior com o Mandruvá, fui também para Ilha Bela (SP), além de ter ficado muito tempo no Clube Orion. Era bom demais”, conta Sheilinha.

“O papel da mulher no samba vem sofrendo alterações com o passar do tempo. O samba nasceu como uma dança e estilo dos negros, e só por isso já é um motivo pro samba sofrer preconceito, e a mulher nesse cenário sofria mais preconceito ainda, porque era vista como um objeto e sexualizada. E isso vem se transformando, com o empoderamento feminino e a mulher assumindo seu próprio controle. Ela representa no samba uma resistência e poder de si, não só para dançar para agradar e sensualizar ninguém”, avalia Raquel Ribeiro Souza, 47 anos, mais conhecida como Raquel Moçambique. 

Formada em Educação Física e pós-graduada em habilitação de grupos especiais, Raquel dá aula em academia há 20 anos. Em 2005 entrou para Corte Momesca, como princesa e em 2007 se tornou Rainha do Carnaval de BH. Além de desfilar pelas principais escolas de samba de BH, como a Canto da Alvorada, Raquel representou o Brasil  no Carnaval das Culturas na Alemanha.

“Eu me sinto honrada por ser homenageada como passista e representante do Carnaval de BH. Venho defendendo a bandeira da dança e fico muito feliz em ver essa planta crescendo, isso é muito bonito. Fico feliz em fazer parte dessa história”, afirma.

HOMENAGEM ÀS PASSISTAS DE BH

Escola de samba Raio de Sol faz roda de samba com participações de Lado Raízes e Warley Henrique, com presença das passistas Raquel Moçambique, Maxlaine, Sicatria de Paula, Sheila Cecília, Inês Pereira e Luana Andrade

Quando? 13h

Onde?  Mercado da Lagoinha - Avenida Antônio Carlos, 821 – Bairro Lagoinha – BH 

Quanto? entrada franca

Como pagar? Dinheiro, cartões de crédito e débito

Informações? (31) 996830186

 

 

 

 

Visto 3325 vezes Última modificação em Domingo, 20 Outubro 2019 11:34
Zu Moreira

Jornalista, compositor e pesquisador

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