Três sambas de compositores mineiros integram o caderno oficial do Samba da Vela 2019, edição em homenagem à madrinha do samba, Beth Carvalho. O anúncio dos selecionados, na noite de segunda-feira (16/09), reuniu na Casa da Família, tradicional reduto do samba no bairro Santo André, um seleto grupo de amantes do samba, da poesia e da música autoral. Chapinha, um dos fundadores do Samba da Vela, projeto que resiste bravamente há 19 anos no bairro de Santo Amaro, zona Sul de São Paulo, foi o grande anfitrião da noite e, junto com o parceiro Evair Rabelo, regeu com maestria um concerto de bambas.
Dos 28 sambas que passam a fazer parte da comunidade do Samba da Vela, três são de compositores de Minas Gerais: Senzala (Ítalo Batista, Juninho de Souza, Betinho Moreno e Bruno Cupertino), coroa uma safra de jovens talentos reunidos no coletivo Reduto de Compositores Vários Dons.
Já Marcelo Monteiro, representando o samba do Barreiro, entrou na peneira, graças à irreverente Crioula Difícil. Outro selecionado, Mário César de Oliveira, cantou a Pedreira Prado Lopes no samba Barraco Apertado, com o auxílio da Velha Guarda da Unidos do Guarani.
Uma noite de celebração do potencial do samba tradicional, do poder da criação e da conexão entre Minas Gerais e São Paulo.
E a vida continua!
Senzala
Senzala ôh, senzala êh
Negro na senzala nunca mais há de ser ver
Era na senzala que o negro ficava
Depois de trabalhar o dia inteiro pro senhor
Vinha da senzala o canto que ecoava
Lamentos de saudade que a mãe África deixou
Senzala ôh, senzala êh
Negro na senzala nunca mais há de ser ver
Na senzala capitão do mato no negro batia
Na senzala com dignidade negro resistia
Negro com valentia superou a tirania até se libertar
Negro com alforria viu nascer umnovo dia
Uma só voz a entoar
Barraco Apertado
Lá na Pedreira
Há sempre um motivo pra batucar e sambar
Eu que já moro num barraco apertado
Não dou espaço pra tristeza morar
Eu desço do morro cedinho pra trabalhar
É lá que moro mas ganho a vida no asfalto
E à tardinha eu paro de labutar
Subo a pedreira pra batucar e sambar
Se ofereceram pra comprar meu barraco
Masnão vejo morando em outro lugar
Só vi conjuntos aglomerados e vilas
Outra favela igual a Pedreira não há
E quando chega feverreiro
Vou pro terreiro, no Guarani batucar
Eu que nasci com a sina de batuqueiro
A minha alegria é ver o morro sambar
Crioula Difícil
Tome cuidado com essa crioula
Ela é cheia de kizumba
Quarta-feira na igreja
E sexta-feira na macumba
Todo dia á noite
Ela sai com a Bíblia
Debaixo do braço
Procurando uma esquina
Pra poder fazer despacho
E quando vai à igreja
Na hora que canta um louvor
Ela diz que quer cerveja
E bate cabeça pro pastor
Eita crioula difícil
Em termos e religião
Cantou pra São Jorge Guerreiro
No meio da pregação
E quando foi à macumba
Numa festa de Oxóssi
Ela gritou "Glória a Deus"
Tenho fé e tomo posse