Os festivais gastronômicos viraram febre Minas afora, mas é bom lembrar que na cultura do samba, comida e música sempre foram elementos indissociáveis, desde os tempos da Tia Ciata, lendária baiana responsável pelas primeiras rodas no centro do Rio de Janeiro. Lá, figuras como Pixinguinha, João da Baiana e Donga, consumiam, além das bebidas, caldo “escaldado” e peixadas.
Essa tradição ainda resiste e Belo Horizonte não faz feio quando o assunto é boa música e gastronomia. Toda semana, bares promovem rodas de samba sem cobrar entrada e com direito a um prato da famosa culinária mineira liberado. Além da tradicional feijoada, o amante do samba também se delicia com pratos de canjiquinha com costelinha, suan de porco com ora-pro-nóbis, mexidão à mineira, caldos e até porco no rolete.
“Trabalho há dezoito anos com comida mineira. Faço muito porco e boi no rolete, churrasco de chão. Então foi uma oportunidade de unir a comida com o samba”, conta Oswaldo Mafaldo Júnior, mais conhecido no meio artístico como Juninho Baú.
Nas quintas-feiras e aos domingos, ele comanda um evento que alia roda de samba de qualidade com comida caseira. E o melhor, tudo 0800! O projeto Nossa Roda de Samba tem sete anos de estrada. Começou no bairro São Paulo, numa roda dentro de um lava-jato, aos domingos. Uma vez por mês era servido um prato de cortesia. Neste ano, o projeto se mudou para o bairro Concórdia e acontece duas vezes por semana, no Butiquim Nossa Roda, rua Iguaçu, 93, quase esquina com a rua Pitangui.
“Na primeira edição já lançamos um tropeiro liberado. Acabou viralizando e a gente fazia todo domingo. E agora estamos fazendo nas quintas feiras no ensaio da nossa roda no butiquim, sempre com um prato diferente liberado”, disse.
A fama já foi parar no Rio de Janeiro. Em vídeo gravado durante making off do DVD “Tudo que sou”, Chico Pinheiro, apresentador do telejornal Bom dia, elogia o tempero mineiro.
“O negócio é o seguinte, além do samba o quê que tem aqui?” pergunta ao anfitrião Toninho Geraes, que logo passa a bola para Juninho Baú fazer a propaganda do espaço.
Outro que sempre coloca tempero no samba é Carlos Alberto dos Santos, dono do Bar do Cacá, localizado no bairro São Paulo.
Há trinta anos, Cacá Santos transforma as comemorações de datas festivas do povo negro em uma verdadeira quizomba. Seja o Dia da Abolição (13 de maio), Dia de São Jorge (23 de abril) ou Dia da Consciência Negra (20 de novembro), sempre há um motivo para celebrar com muito ora-pro-nóbis, feijoada ou outras iguarias feitas pela irmã, Regina das Graças Moreira de Deus, herdeira dos dotes culinários da matriarca da família, Benedita Moreira de Deus.
“Meus eventos são sempre relacionados à religião e às coisas de nossos ancentrais” conta Cacá, que devido a esse trabalho de valorização da cultura afro-brasileira recebeu o Prêmio Zumbi de Cultura, na categoria Personalidade Negra.
A poucos metros do Bar do Cacá, o bar do Boizinho é também uma opção para quem procura a baixa gastronomia, cerveja gelada e uma boa música. Ás terças-feiras, ele reúne os amigos Mário da Viola, Simão de Deus, Mauro Bainha, Lado Raízes, Nonato, Evair Rabelo, entre outros, para uma roda de samba descontraída. "Todos as terças a gente faz um prato especial", conta Mário da Viola.
Sambas clássicos como Feijoada Completa (Chico Buarque), Pagode Vavá (Paulinho da Viola) definem bem o espirito das rodas de samba, sempre com a presença de uma mulher, como a “Vicentina”, no preparo das iguarias.
“Interessante observar que em boa parte dos sambas que associam a festa com a culinária a figura feminina aparece como a boa cozinheira, que além do banquete ainda faz a feira”, afirma a pesquisadora Ana Lúcia Fontenele, no artigo “O samba e a culinária mineira: análise etnográfica de um samba de Toninho Geraes e Paulinho Rezende”, sobre a música “Comida Mineira”.
Localizado no bairro Caiçara, o Três Preto Bhar é outro espaço em que o samba rola solto e a comilança é garantida. Às quintas-feiras, a casa promove o já tradicional Samba do Angu, animado pelo grupo “Som da Batucada” e com direito a um prato liberado de angu à baiana feito pela Tia Penha, mãe de Herman William Caetano, um dos proprietários do bar, ao lado da própria mãe, da noiva Greice Kelle e do filho, Rafael.
"O angu surgiu pelo gosto da minha mãe em agradar as pessoas. Ela fez a primeira vez na ideia de ter um prato liberado que ao mesmo tempo que servisse de atrativo, servia também para aquecer as pessoas, pois o samba era na rua e no início éramos poucos. E assim foi pegando e se estabeleceu como samba do angu", explica ele.
Confira abaixo os principais bares com programação 0800.
SAMBA DO ANGU
Todas as quintas-feiras tem roda de samba com Som da Batucada o angu à baiana liberado
Quando? Quinta-feira, 19h
Onde? 3Preto Bar – Rua Pigmatita, 341, Bairro Caiçara, BH
Quanto? Entrada franca
Como pagar? Dinheiro, cartões de débito e crédito
Informações? (31) 97136-4737
GRUPO NOSSA RODA
Todas as quintas-feiras e aos domingos sempre com um prato liberado
Quando? Quintas (19h) e domingos (14h)
Onde? Butiquim Nossa Roda – Rua Iguaçu, 93, Bairro Concórdia, BH
Quanto? Entrada franca
Como pagar? Dinheiro, cartões de débito e crédito
Informações? (31) 98554-1331
BAR DO BOIZINHO
Na terça-feira tem a reunião dos amigos com direito a um prato especial.
Quando? terça-feira, às 20h
Onde? Bar do Boizinho - Rua Maria Pietra Machado, 120 – Bairro São Paulo – BH
Quanto? Entrada franca
Como pagar? Dinheiro, cartões de débito e crédito.
Informações? (31) 975826872
Têm outras casas de samba que também promovem rodas com comida liberado, mas em eventos especiais, como o Butiquim São Jorge, no Horto, e o Contemporâneo Gastro Show, em Santa Efigênia. Outro evento que está dando o que falar é o Circuito Gastronômico de Favelas, com muito samba e tira-gostos produzidos pelas comunidades participantes, a preços populares. Confira toda a semana a programação no Agendão do Samba para não perder o cardápio!