GERALDO PEREIRA

Jul 31 2018 /

23 de abril de 1918 – Juiz de Fora
Ɨ 8 de maio de 1955 – Rio de Janeiro

Considerado um dos maiores sambistas brasileiros, Geraldo Pereira nasceu em Juiz de Fora (MG) e em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro para morar com o irmão mais velho, Manoel Araújo, conhecido como Mané-Mané e que morava no Santo Antônio, Morro de Mangueira. Passou a trabalhar como ajudante do irmão no balcão de uma tendinha mantida por ele no Buraco Quente, localidade do Morro da Mangueira. 

Em 1931, conheceu Buci Moreira, Padeirinho e Fernando Pimenta, que tinham idade semelhante à sua e que se tornariam futuros sambistas. Pouco tempo depois, empregou-se como soprador de vidro na fábrica de vidro José Scaroni, na Rua Gonzaga Bastos, lá permanecendo por pouco tempo. Já nessa época, participava de rodas de samba no Morro da Mangueira na casa de Alfredo Português.

Aos 18 anos, tirou sua carteira de motorista, empregando-se na Prefeitura do Rio de Janeiro, no volante do caminhão de limpeza urbana, emprego que manteve por toda a vida. Aprendeu a tocar violão com Aluísio Dias e Cartola. Por volta de 1940, conheceu Isabel, grande amor de sua vida, musa inspiradora de sambas como Acabou a sopa, gravado em 1940 por Ciro Monteiro e Liberta meu coração, gravada em 1947 por Abílio Lessa. 

Em 1938, aos 20 anos, compôs o samba Farei tudo, em parceria com Fernando Pimenta, proibido pela censura, porque seus versos foram considerados excessivamente ousados para a época. A partir de então, começou a fazer seus primeiros trabalhos musicais, inspirado no movimento denominado "samba do telecoteco", do qual Ciro de Souza era um dos principais articuladores.

Em 1939, teve sua primeira música gravada, o samba Se você sair chorando, com Nelson Teixeira, registrado por Roberto Paiva, na Odeon. Esse samba foi finalista no Concurso de Músicas Carnavalescas do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, do governo Getúlio Vargas, tendo sido tocado nas rádios e cantado nas ruas do Rio de Janeiro, projetando seus autores no meio artístico carioca. Ao fazer o arranjo para o samba, Pixinguinha pediu ao cantor Roberto Paiva que o apresentasse ao autor, pois a originalidade da melodia o havia impressionado imensamente. 

A partir da década de 1940, Pereira estabeleceu inúmeras parcerias, compondo uma centena de sambas que foram gravados por Cyro Monteiro, Augusto Garcez, Aracy de Almeida, Isaura Garcia, Patrício Teixeira. Em 1944, seu samba Sem compromisso (sim, o mesmo que Chico Buarque incluiria, em 1974, em Sinal fechado), com Nelson Trigueiro foi gravado na Continental. Em seguida, teve novo grande sucesso na voz de Cyro Monteiro com Falsa baiana, um dos grandes sambas da música brasileira, inspirado na esposa do compositor Roberto Martins, incapaz de sambar no carnaval, com sua fantasia de baiana.

Em 1945, teve o samba Bolinha de papel, que apresentava sutis inovações rítmicas lançado pelo grupo Anjos do Inferno, mas que nessa versão não obteve grande sucesso. Em 1955, três meses antes de morrer subitamente viu seu último sucesso gravado em disco, o samba Escurinho, que conta a trajetória de um negro pacato, que de uma hora para outra muda de comportamento e sai pelos morros comprando brigas, lançado em fevereiro daquele ano por Cyro Monteiro. Depois de sua morte seus sambas continuaram a ser regravados por inúmeros cantores e cantoras.

Em 1971, Paulinho da Viola regravou o samba Você está sumindo e João Gilberto recriou com sucesso o samba Bolinha de papel para o disco que fazia parte da série História da Música Popular Brasileira, da Editora Abril, dedicado à obra do compositor. No mesmo ano, Gal Costa regravou o samba Falsa baiana no LP Gal a todo vapor. Em 1979, seu samba Ministério da economia foi proibido pela Censura Federal de ser gravado por Leci Brandão. Em 1980, este samba foi finalmente liberado e gravado por Monarco no LP Evocação V lançado pelo Estúdio Eldorado. Do mesmo disco faziam parte ainda as composições Mais cedo ou mais tarde, interpretado por Jards Macalé; Onde está a Florisbela?, por Batista de Souza; Pedro do Pedregulho, por Vânia Carvalho; Pisei num despacho, por Jackson do Pandeiro; Pode ser?, por Cristina e Se você sair chorando, cantado por um coral.

Ainda em 1980, foi homenageado pela escola de samba Unidos do Jacarezinho com o enredo "Homenagem a Geraldo Pereira", cujo samba-enredo foi feito por Monarco. Em 1981, João Nogueira regravou os sambas Você está sumindo e Escurinha. Em 1983, foi homenageado pela Funarte com o LP Geraldo Pereira - Pedrinho Rodrigues e Bebel Gilberto no qual a dupla Pedrinho Rodrigues e Bebel Gilberto interpretaram várias  obras do sambista.

Em 2005, por ocasião dos 50 anos de sua morte foi homenageado pelo jornalista Luís Pimental com uma crônica no Jornal do Brasil na qual o jornalista assim se referiu ao compositor: “O melodista – a quem se atribui a invenção ou pelo menos a burilada do samba sincopado – e letrista de versos livres e arrojados (Tá louca, chamando pra casa/Agora que o samba enfezou/Vou com a turma pras cabeças/ Não me aborreça, vá que depois eu vou), viveu apenas 37 anos, mas sua obra valiosíssima tem sido revisitada e regravada em vários momentos e por nomes marcantes da MPB".

Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa 100 anos de música popular brasileira com a reedição em quatro CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 4 estão incluídos alguns sambas de Geraldo Pereira. Em 2012, o ECAD divulgou levantamento, segundo o qual, seu samba Sem compromisso, com Nelson Trigueiro, foi a música mais executada ao vivo nos bares da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, durante o ano de 2011.

De acordo com uma crítica feita pelo jornalista Okky de Souza no site Dicionariompb.com.br, dois são os motivos que fazem de Geraldo Pereira um dos maiores sambistas de todos os tempos: primeiro poruqe ele foi um dos mais brilhantes artistas do samba sincopado; segundo, porque em suas letras atuou como um atilado cronista do Rio de Janeiro de sua época. “Na linguagem técnica das partituras, síncope significa prolongar o som de um tempo fraco num tempo forte que vem a seguir. É um ritmo puladinho, requebrado, brejeiro, o chamado samba de gafieira, em oposição ao das escolas de samba. O ritmo sincopado é também a alma da bossa nova e, não por acaso, nos anos 60, João Gilberto gravou Bolinha de papel”, de Pereira, comentando na época que ele fora “um inovador sem ter consciência disso””, comenta Okky.

Segundo o jornalista, como letrista, Geraldo Pereira retratava a vida da malandragem e das classes menos favorecidas do Rio de Janeiro, aquela dos morros e dos subúrbios. “Seus sambas não enfocam a classe média, como os de Noel Rosa (Conversa de botequim, Coisas nossas). Falavam de gente humilde.”

Fonte: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira diariodampb.com.br)


 

 

 



 

 

 

 

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