DONA ELIZA

Mai 23 2018 /

26/7/1948 – Águas Formosas (MG)


Se no berço do samba, o preconceito e a discriminação sempre foram obstáculos para a afirmação da mulher enquanto sambista, imagine em Minas Gerais?

“Minha mãe sempre implicava, porque não queria que eu mexesse com música”, conta Ana Eliza de Souza, a Dona Elisa, de 72 anos, ao relembrar o início de sua trajetória como artista, ainda criança, em Águas Formosas, no Norte de Minas.

Uma das poucas representantes femininas da Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte, Dona Elisa vê, aos poucos, seu sonho de viver do palco e das luzes se realizar. Além de intérprete, é uma exímia compositora, com mais de 700 canções registradas.

Em 2017, lançou o do primeiro CD Diploma da Vida, que reúne 12 faixas com composições próprias, que marcam seus 50 anos de carreira.

"Estou me sentindo uma criança quando ganha um brinquedo. Ou seja, feliz”, diz ela, ao falar do projeto. Ela conta que as músicas são todas inéditas. "Algumas fiz quando comecei a compor, ainda jovem", acrescenta. Começou a compor aos 22 anos. Faz letra e melodia. “Toda a vida foi assim”, emenda.

Empregada doméstica aposentada, filha de pai lavrador e mãe professora, já passou por muitas dificuldades, fitando a discriminação e o preconceito da sociedade. Começou a cantar aos 10 anos nas festinhas de colégio e aos 15 já estava dividindo espaço com os homens nos bares da vida. Na juventude, chegou a morar no Rio de Janeiro, antes de buscar uma carreira artística em Belo Horizonte, na década de 1970. “Chegando aqui, me instalei, de cara, na marquise do edifício onde ficava a Mesbla (Rua Curitiba, quase esquina com Avenida Afonso Pena). Foi meu primeiro hotel”, brinca.

Mesmo sem lugar para morar, dormir e tomar banho, Dona Elisa não se curvou diante dos desafios e conseguiu, aos poucos, ocupar seu espaço. Pelas mãos de José Luiz Alves, que se apresentava no Elite, foi à Ordem dos Músicos do Brasil para tirar sua carteira e começar a atuar em bares e clubes da cidade. “Aí comecei. Cantava no Tio Patinhas, no próprio Elite, com um repertório que tinha de tudo da MPB, do sertanejo ao brega”, completa.

A escassez financeira e o casamento fizeram com que a sambista se afastasse do mundo artístico por 14 anos. Depois, voltou a se apresentar nas rodas até ser chamada pelo falecido maestro Jadir Ambrósio, autor do hino do Cruzeiro, para integrar o grupo Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte, sempre com composições próprias, como o Samba da maioridade e Fogo cruzado : (“Tu vives passando por fogo cruzado/ só vive lembrando o passado/ não sabes a vida viver/ jurando um amor que não pode suprir/ fingindo não gostar de mim/ fingindo não me perceber”).

Em 21 de abril de 2018, foi condecorada pelo Governo de Minas Gerais com a Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto (MG), por sua importante contribuição para o samba mineiro. Em 2019, Dona Elisa participa da websérie Sambista da Vez, projeto patrocinado pela MGS, por meio da Lei Municipal de Incentivo Cultural.





 

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