Era ano de 1973 e a música brasileira estava de vento em popa. Neste ano de nosso senhor saíram discos da importância de um Todos os olhos do Tom Zé, Índia da Gal, o álbum branco do João Gilberto, Secos e Molhados, Sérgio Sampaio com seu Eu quero é botar meu bloco na rua, Tim Maia, Araçá azul do Caetano e muitos outros. Mas é para o Nervos de aço que estamos aqui.
O disco do Paulinho da Viola é daqueles momentos em que a música brasileira dá uma guinada. Um disco triste, com letras pesadas e amargas. “Sentimentos em meu peito eu tenho demais/ A alegria que eu tinha nunca mais/ Depois daquele dia em que eu fui sabedor/ Que a mulher que eu mais amava/ Nunca me teve amor”, é verso que abre o disco na sensacional música de Miginha e diz muito sobre a pedrada que a gente leva ao cabo de seus poucos 31 minutos de audição.
A regravação de Nervos de aço vem carregada de um arranjo no piano (do Cristovão Bastos) que traz toda a dor do Rio Grande do Sul. Tem de Carlos Cachaça, Cartola, Zé Da Zilda, a maravilhosa
Não quero mais amar a ninguém, Choro negro e Cidade submersa do próprio, a primeira um choro instrumental e a segunda uma letra daquelas. E talvez o único momento de esperança na versão de Sonho de carnaval do Chico.
Mas duas canções se destacam: Comprimido e Roendo as unhas. Estas duas são de uma força e inovação da linguagem do samba, que merecem todo um estudo. A levada de Roendo é uma coisa magnética, que te faz entrar no loop que ela traz e submergir na poesia bruta do vascaíno Paulinho. E comprimido com sua trágica história, contada de forma que você se vê na pele do homem da mulher que tinha mania. Duas canções para a história da música, aproveitem.